Contexto histórico das Rodovias Bernardo Sayão (BR-010) e Capitão Pedro Teixeira (BR-316)

Eng. Bernardo Sayão
Estatua em homenagem ao Capitão Pedro Teixeira

Juscelino Kubitschek ao governar o país em 1956, comprometeu-se a trazer desenvolvimento, realizando 50 anos de progresso em 5 anos de governo, no chamado “50 anos em 5”. Seu Plano de Metas privilegiava o setor de bens de consumo sofisticado (automóvel, geladeira, televisão, produtos eletrônicos, etc.). Bem como, bens intermediários (combustíveis líquidos, siderurgia, carvão, cimento, zinco, aço, papel e celulose), além de criar infraestrutura adequada para o engajamento maior do setor privado em setores mais avançados de industrialização, reforçando assim o papel da urbanização como base para a industrialização. Os investimentos estatais em infraestrutura tinham seis áreas gerais: energia, transporte, fornecimento de alimentação, indústria de base, educação e a construção de Brasília. Nos transportes, JK deixou de investir no segmento ferroviário para o rodoviário, pois objetivava introduzir o setor automobilístico no país (AREND, 2009; BECKER & EGLER, 1998; OLIVEIRA, 2009; REGO & MARQUES, 2006; RODRIGUES, 2009; SCARLATO, 2009; TAFFAREL, 2010). 
 Busto de Juscelino Kubitschek no fim da BR-010.
(Av. Tito Franco, atual Alm. Barroso em São Braz)
A ênfase dada ao setor de transporte é consolidada através do Plano Nacional da Indústria Automobilística (1956), que atraiu multinacionais automobilísticas pelas suas vantagens. A partir da criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) implantaram-se várias industriais de automóveis no país (Ford, Volkswagen, General Motors, Fiat, etc.), influenciando o governo na criação de novas rodovias, como a rodovia Bernardo Sayão, mais conhecida como Belém-Brasília (BR-010) inaugurada em 1960, o primeiro elo rodoviário da região amazônica com o centro-sul com 1.959 quilômetros de extensão. A rodovia homenageia o engenheiro Bernardo Sayão que morreu atingido pela queda de uma árvore em 15 de janeiro de 1959 durante a construção da rodovia (AREND, 2009; BECKER, 2009; FERREIRA & DIAS, 2001; FERREIRA, 2005; MEIRELLES FILHO, 2006; MENEZES, 2007; OLIVEIRA, 2009; REGO & MARQUES, 2006; RODRIGUES, 2009; SCARLATO, 2009).
Eng. Bernardo Sayão acompanhando as obras da BR-010.
Homenagem a Bernardo Sayão
Abertura da Rodovia Belém-Brasília na década de 1950
Velório de Bernardo Sayão
Mapa da BR-010 (Belém-Brasília)


Nesse período inicia-se a abertura de estradas ao longo do território nacional atendendo a demanda pelo transporte rodoviário, que passou a ser encarado como fator de modernidade. No regime militar de 1964 permite uma nova fase para o desenvolvimento econômico do país. A Amazônia passa a atrair capital internacional em busca de seus recursos naturais (petróleo, minérios, madeiras duras, áreas de expansão da pecuária e da soja). Uma região onde menos de 1% havia sido desmatado, passar a enfrentar uma escala sem precedentes de migração, invasão de garimpeiros e madeireiros, conduzidos por políticos com pensamento estratégico militar e visão distorcida da realidade (MEIRELLES FILHO, 2006).
As estratégias de ocupação do “deserto” amazônico em termos populacionais pelos militares colocaram em segundo plano os próprios problemas da região. Basicamente, a estratégia buscava resolver três problemas: a fome da Região Nordeste do país, a falta de terra para os agricultores do Centro-Sul, e a necessidade de tomar posse da Amazônia brasileira. Para isso era preciso interligar a região com as demais regiões do Brasil através de rodovias (MEIRELLES FILHO, 2006). 
O transporte rodoviário, impulsionado pela indústria automobilística brasileira, por ser mais simples e eficiente só necessitava da existência de rodovias. Nesse contexto, configurou-se a malha rodoviária brasileira formada por rodovias federais e estaduais. Construídas por empreiteiras paulistas e mineiras, como a Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e a Mendes Junior, sendo estas as maiores parceiras das grandes obras do governo militar. A identificação da malha federal utilizou-se do prefixo BR, dividida em: a) Radias (começam em Brasília, numeradas de 1 a 100); b) Longitudinais (sentido Norte-Sul, numeradas de 101 a 200); c) Transversais (sentido Leste-Oeste, numeradas de 201 a 300); d) Diagonais (sentindo diagonal, numeradas de 301 a 400); e) Ligação (unem as anteriores, numeradas de 401 a 500) (MEIRELLES FILHO, 2006; RODRIGUES, 2009).




Tipos de Rodovias (DNIT)
A rodovia capitão Pedro Teixeira (BR-316)  enquadra-se na categoria diagonais, inicia em Belém (PA) e termina em Maceió (AL), num total de 2.030 km de extensão rodoviária, iniciada no final da década de 1960 e concluída na década de 1970. O interesse dos militares sobre a abertura de rodovias e vicinais nos Estados da região Norte visavam à sua estruturação, sob a ótica da integração nacional, colonização como parte integrante da reforma agrária e, a inserção da Amazônia na econômica nacional. Os princípios da geopolítica e segurança nacional estabelecidos durante este período na Amazônia, além de atender as diretrizes citadas, garantia aos militares o domínio sobre o “grande vazio”, fazendo com que houvesse circulação de pessoas, tropas militares, mercadorias e a circulação da sociedade civil em cidades isoladas, que passaram a ter acesso terrestre pelas rodovias recém-construídas (NETO, 2013).
Trajeto da Rodovia BR-316
A BR-010 e a BR-316 se unem num único elo rodoviário no município de Santa Maria do Pará, percorrendo mais de 100 km até chegar a capital paraense. A BR-316 tem seu Km 0 no Entroncamento no bairro do Castanheira, enquanto a BR-010 tem seu termino em São Braz no fim da Av. Almirante Barroso próximo ao terminal rodoviário. 
Mapa da interseção do trecho entre Santa Maria do Pará até Belém das BR-010 e BR 316
A partir da década de 1970, no trecho da BR-316 entre Ananindeua (Curva da Castanheira) e Marituba foi instalado o segundo polo industrial de Ananindeua, como: Refrigerantes Garoto, Tanpom Corona, Tuplama, Poliplast, Soteaço, Artecom, Melamazon, Maginco e a Inca. 


Industria de Refrigerantes Garoto em 1983 (Acervo Fotográfico do IBGE)

A partir da década de 1980, muitas empresas comerciais foram implantadas. Na década de 1990, a grande maioria das empresas instaladas no mesmo perímetro da BR-316 eram do setor comercial: venda de automóveis, caminhões, tratores e autopeças e transportadores.
Atualmente, os espaços ocupados inicialmente pelo setor industrial, mantém a função comercial com várias empresas de automóveis, além de redes de supermercados, lojas, bancos, farmácias,  clinicas, hospitais, lojas de materiais de construção e residenciais horizontais e verticais. Configurando-se como um dos trechos mais urbanizados da BR-316 e 010. 


      Belém Brasília rodovia da unidade nacional (1962)



Referências:

AREND, M. 50 Anos de industrialização do Brasil (1955-2005): uma análise evolucionária. 251f. Tese (Doutorado em Economia). Faculdades de Ciências Econômicas. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009.
BECKER, K.B. Amazônia: Geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
BECKER, B.K. EGLER, C.A.G. Brasil: Uma nova potência regional na economia-mundo. 3° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
FERREIRA, A. Estado e economia no Brasil: 1930-1964. Fundamentos da construção de um capitalismo urbano-industrial periférico. Revista de Ciências Sociais, Fortaleza, v. 36, n 1/2, p. 52-72, 2005.
FERREIRA, M.M.; DIAS, C.C.M.G. Os anos de JK no acervo da Biblioteca Nacional. In: Biblioteca Nacional (Brasil). Brasiliana da Biblioteca Nacional: Guia de fontes sobre o Brasil. PEREIRA, P. R. (Org.). Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional/Nova Fronteira, 2001.
MEIRELLES FILHO, J.C.M. Livro de ouro da Amazônia. 5 ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
MENEZES, F.D. Enunciados sobre o futuro: ditadura militar, Transamazônica, e a construção do Brasil grande. 154f. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Ciências Humanas, Universidade de Brasília, Brasília, 2007.
NETO, T.O. Rodovia Transamazônica: Falência de um grande projeto geopolítico. Revista Geonorte, Edição Especial 3, Manaus, v. 7, n. 1, p. 282-298, 2013. 
OLIVEIRA, A.U. A inserção do Brasil no capitalismo monopolista mundial. In: ROSS, J.L.S. (Org.) Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.
REGO, J.M.; MARQUES, R.M. Economia Brasileira3° ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
RODRIGUES, P.R.A. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e à logística internacional. 4. ed. rev. e ampl. São Paulo: Aduaneiras, 2009.
SCARLATO, F.C. População e urbanização brasileira. In: ROSS, J.L.S. (Org.) Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 2009b.
TAFFAREL, C.M. Milagre econômico brasileiro (1968-1973). 47f. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas). Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Chapecó, 2010.



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