Rodovia do 40 Horas e suas mudanças sócio-espaciais

 
 
Ranchinho Conceição

A Estrada do 40 Horas foi a primeira denominação que recebeu um das mais antigas estradas do município de Ananindeua. A Rodovia do 40 Horas como passou a ser chamada se inicia no centro do antigo povoado do Coqueiro, no cruzamento com a antiga Rodovia do Coqueiro (Atual Mario Covas) e Transcoqueiro. Sua extensão é de aproximadamente 4,6 km, contado da Av. Mario Covas até próximo às margens do rio 40 Horas. A Estrada recebeu esse nome por terminar num afluente do rio Ariri, que segundo Penteado (1968) também já foi denominado de 48 horas.

Com o processo de industrialização do município de Ananindeua na década de 70, os terrenos próximos ao rio 40 Horas foram estratégicos para implantação de madeireiras como a Importadora e Exportadora Trevo LTDA., que escova sua produção pelos rio Ariri e Maguari até a baía do Guajará, bem como pela rodovia, que lhe daria fácil acesso a BR-010. Outra grande exportadora é a Peracchi LTDA., localizada próximo ao centro do 40 Horas.

Os primeiros moradores se estabeleceram no local por volta da década de 1950. Na qual era comum encontrar grandes terrenos cheios de árvores frutíferas e casas de madeira varandada, com vários pés de jambeiro, mangueiras, jaqueiras, ameixeiras, muricizeiros  e açaizais. Seus proprietários eram de família humildes que se dedicavam a extração de frutas e criação de animais domésticos.

Na década de 1970, começa o estabelecimento dos clubes de esporte e lazer de propriedade de grandes empresas em Belém, bem como dos sindicatos de classes e comercial, como o SESC de Ananindeua. Nesse período, já havia além dos antigos moradores as ruas nas laterais da estrada, aberta por processos de ocupação espontânea ou compra, como a rua Santa Terezinha, Passagem da Índia (recebe esse nome devido aparição de uma índia a noite próximo a umas mangueiras), Passagem Damasceno (Nome em homenagem a um antigo proprietário de terras que possuía um motel numa área de floresta próximo a rodovia).
Clube do Quarentão (Antigo Clube do Regatão)
Clube do Sintprevs (Antigo Clube do NPS)
         
         Além dos clubes, as famílias importantes de Belém começaram adquirir terrenos e construir suas rocinhas, vivendas e sítios, algumas delas eram verdadeiras mansões, com jardins, lagos artificiais, campos de futebol, piscinas e salões para festas. Parte dessas propriedades pertenciam a médicos e grandes empresários, que nos últimos 10 anos foram vendidas para os bancos, imobiliárias e construtoras.

Na década de 1980, iniciou um novo modelo já bastante difundido nas capitais brasileiras, os condomínios fechados (horizontais), um dos mais antigos construído nas margens da estrada do 40 Horas foi o Chácara Terra Nova. Na década de 1990, foi a vez dos condomínios verticais, como é o caso do Condomínio Royal Park e o Residencial Oasis. Também foram construídos os conjuntos habitacionais pela COHAB-PA (Empresa responsável no Estado pela implantação da política de habitacional para a população de baixa renda) como os conjuntos Antonio Queiroz, Saint Clair Passarinho, Ariri e Sabiá. Próximo a esses conjuntos ocorreu às ocupações espontâneas, nas áreas desocupadas existentes.
Condomínio Chácara Terra Nova

      Na ultima década, a busca por novos espaços para edificação de moradias no mercado imobiliário, levou a procura dos antigos terrenos pertencentes a clubes, que já passavam por dificuldades financeiras ou abandono, bem como, as propriedades que com a morte de seus donos entrou em processo de declínio e ruinas das edificações existentes. Na qual ambos passaram a ser vendidos para dar lugar a vários tipos de condomínios horizontais e verticais, além dos loteamentos, na qual o interessado adquire um lote e constrói sua residência conforme seu interesse.
 







 
Esse processo de valorização do espaço dividiu a Rodovia do 40 Horas em dois setores, o primeiro que vai da Av. Mario Covas até a Av. Independência é marcado atualmente pelos condomínios e loteamento, o segundo que vai da Av. Independência até o rio 40 Horas é marcado pela presenças dos conjuntos habitacionais, pequenos condomínios, loteamentos, adensamento das edificações nas primeiras ruas do bairro e ocupação espontânea.

Ambos os espaços tem contribuído nos últimos anos para o aumento no contingente populacional, que gerou a criação do bairro do 40 Horas, que antes pertencia ao bairro do Coqueiro, mudanças no microclima e na vazão de pequenos igarapés da bacia do rio Ariri, que foram assoreados pelo processo de retirada da cobertura vegetal para dar lugar as novas funções sociais. Esse processo já pode ser percebido nos transportes públicos que não atendem a demanda existente, bem como, no aumento de carros particulares que em certos ocasiões causam engarrafamentos de mais de 1 km, para uma estrada que possui cerca de 4,6 km.

No entanto, o aumento da população com maior poder aquisitivo, tem atraindo investidores, que já estão construindo postos de combustíveis, shopping, farmácias e supermercados.
 



No ano de 2011, a Câmera Municipal de Ananindeua estatuiu no dia 29 de Novembro o projeto de Lei n° 2.534 e o ex-prefeito Helder Barbalho sancionou substituindo o nome da antiga Estrada do 40 Horas para Avenida Governador Hélio da Mota Gueiros. Como homenagem do município à história e às contribuições deste político para a população de Ananindeua e do Pará.

Em 2013, a Prefeitura Municipal de Ananindeua iniciou o processo de Duplicação da Avenida Governador Hélio da Mota Gueiros (antiga 40 horas), no trecho compreendido entre a Rodovia Mario Covas e Avenida Independência, foi homologada pela Secretaria Municipal de Saneamento e Infraestrutura (SESAN) no Diário Oficial do Município n°1831, publicado no dia 10/12/13.
 



          A empresa Norte Construções Civis LTDA, executará em 120 (cento e vinte) dias e vigência de 150 (cento e cinquenta) dias as obras de duplicação, com o preço global de R$ 3.136.605,15 (três milhões, cento e trinta e seis mil, seiscentos e cinco reais e quinze centavos), firmado no dia 20 de novembro de 2013 (PROCESSO Nº 094/2013 – SESAN/PMA). As obras fazem parte do projeto de integração e descongestionamento do trânsito na Região Metropolitana de Belém, que modernizará a via que a quase duas décadas só recebe trabalhos de tampa buraco, sem calçamento e ciclo faixas para os pedestres.






Assim uma estrada de dominação derivada de um rio, que ainda não está claro a explicação de seu nome, nem como se procedeu a sua abertura, pois não há informações de acesso público que defina melhor sua história. A substituição de seu nome é uma ameaça a sua identidade e sua história. Os maiores prejudicados serão seus moradores, que ao longo de décadas estabeleceram uma relação de pertencimento e construíram sua história e que agora terão que aceitar sua nova denominação, pois de nada esta rodovia contribui para o desenvolvimento do município e de seu povo, podendo facilmente ser substituída por um nome que melhor lhe represente e der dignidade ao município a que pertence.

Essa postagem está baseada no meu pertencimento a este lugar onde cresci e moro até os dias de hoje. Nela narro os principais fatos históricos desta rodovia que sempre foi marginalizada e considerada periférica, mas que atualmente atrai os olhares de investidores e novos moradores. Em nome da população que residem nesta Estrada/Rodovia fica o meu protesto. Assim dedico-a aos moradores das seguintes alamedas, passagem, ruas e travessas:

Alameda 12 de Outubro, Alameda Açucena, Alameda Azaléa, Alameda Bianor Teixeira Lima, Alameda Bruno Antunes, Alameda Crisântemo, Alameda Gérbera, Alameda Gloxínia, Alameda Hilda, Alameda Iraciano Olimpo, Alameda Joao Nunes, Alameda Joaquim Pereira, Alameda Kalanchoe, Alameda Oasis, Alameda Orquídea, Alameda Para, Alameda Paraíba, Alameda Paulo Fonteles, Alameda Pernambuco, Alameda Primeira, Alameda Raimundo Saraiva, Alameda Rubi, Alameda Segunda, Alameda Verbena, Avenida Firenze, Avenida Independência, Avenida Milão, Avenida Roma, Estrada do Ariri, Estrada Icuí Guajará, Estrada Samaria, Passagem 1 de Novembro, Passagem Abaete, Passagem Agua Verde, Passagem Beija Flor, Passagem Beira Rio, Passagem Bela Vista, Passagem Bom Jardim, Passagem Bom Jesus, Passagem Coletiva, Passagem Coração de Jesus, Passagem da Paz, Passagem Damasceno, Passagem Dois Irmãos, Passagem Domingos Evangelista, Passagem Elizabeth, Passagem Fe Em Deus, Passagem Filizola, Passagem Florestal, Passagem Joana Patrícia, Passagem Joao Paulo Ii, Passagem Monteiro Lobato, Passagem Moreira, Passagem Nazaré, Passagem Nossa Senhora das Graças, Passagem Nova Esperança, Passagem Oasis, Passagem Olímpia, Passagem Sagrada Família, Passagem Samaria, Passagem Santa Clara, Passagem Santa Lucia, Passagem Santa Luzia, Passagem Santa Rosa, Passagem Santa Terezinha, Passagem Santo Antonio, Passagem São Bento, Passagem São Francisco, Passagem São Jeronimo, Passagem São Joao, Passagem São Jorge, Passagem São Jose, Passagem São Luiz, Passagem Sem Denominação,  Passagem União, Passagem Vinte e Oito de Agosto, Residencial Jardim das Acácias, Rodovia dos Trabalhadores, Rodovia Mario Covas, Rua 1, Rua 2, Rua Airton Senna, Rua Amazonas, Rua Aquário, Rua Belém, Rua Bolonha, Rua Bom Sossego, Rua Bons Amigos, Rua C, Rua Capri, Rua Central, Rua das Hortênsias, Rua das Violetas, Rua Diamante, Rua do Fio Ou Clodomiro Begot, Rua do Residencial, Rua dos Lírios, Rua Doutor Raimundo Osorio, Rua Doutor Regis, Rua Doze de Outubro, A Rua Elizabeth, Rua Fe Em Deus, Rua Filadélfia, Rua Genova, Rua Gira Sol, Rua Liberdade, Rua Maria Santa, Rua Monza, Rua Nápoles, Rua Nossa Senhora de Nazaré, Rua Nova Divinéia, Rua Nova Jerusalém, Rua Oito de Maio, Rua Oito de Marco, Rua Oliveira, Rua Pagani, Rua Palermo, Rua Pompeia, Rua Primeira Rua do Conjunto Ariri, Rua Ravena, Rua Sagrado Coração de Jesus, Rua San Marino, Rua San Remo, Rua Santa Helena, Rua Santana, Rua Santana 2, Rua Santo Antonio, Rua São Francisco, Rua São Joao Evangelista, Rua São Jorge, Rua São Marcos, Rua Sardenha, Rua Sem Denominação, Rua Sicília, Rua Sn 04, Rua Sol, Rua Sol Poente, Rua Tancredo Neves, Rua Topázio, Rua Toscana, Rua Trieste, Rua Turim, Rua Turmalina, Rua Udine, Rua Veneza, Rua Vinte e Oito de Agosto, Rua Vitoria, Rua Vitoria Regia, Rua We 45, Rua We 46, Travessa Central, Travessa Eli Menezes, Travessa São Pedro.

Comentários

Unknown disse…
muito bom o texto.. A minha curiosidade é saber se com essa duplicação da rodovia se irão surgir, novas ou existente, vias de ônibus na estrada depois de pronto esse projeto..
Anônimo disse…
Muito bom! Além do descaso com o nome da estrada não sei cade o projeto desta obra que não sabemos como vai ser
Unknown disse…
Primeiramente parabéns pela pesquisa e redação. O texto também chama a atenção pela forma que o legislativo municipal alterou o nome da rod. 40 horas, sem ao menos, uma consulta a população local.
Outrossim, quanto a obra de duplicação, que chega com anos de atraso, chama a atenção o fato de novamente não haver uma audiência publica com os moradores a fim de esclarecer sobre a duplicação da avenida, se vai haver calçadas, ciclovias, estacionamento, como ficará as linhas de ônibus, as paradas. Ponderações importantes que infelizmente colocam o povo de fora.....o que se vê é que a iniciativa privada chegou e a pública, ainda vem numa carroça....
Murilo
Muito bom mesmo, precisamos de trabalhos como o seu que mostre as mazelas do crescimento desordenado.
Unknown disse…
Muito boa a iniciativa de falar sobre o bairro do 40 horas q se pouco encontra nos acervos da Internet.
Anônimo disse…
Ótimo texto. Parabéns. Sou morador do 40 horas e tenho repúdio a mudança que fizeram quanto ao nome e o fato de nao terem feito obras de infraestrutura de grande porte na parte de cima do 40 horas.
... disse…
Que texto incrível, parabéns, muito obrigado por resgatar essa história tão rica que nossa avenida tem. Obrigado pela indignação, o pertencimento é nosso elo com a memória, não exclusivo, mas é um elo muito forte e a mudança do nome nos faz perder a memória. Meu protesto também.

Em relação ao nome 40 horas, as pessoas mais antigas, não só da área do 40 horas e do bairro do coqueiro, dizem que o nome vem porque era dois dias de viagem de remo e vela do furo até o ver-o-peso. Por isso antes era 48 horas, contudo, percebeu-se que era um pouco menos de dois dias e assim ficou 40 horas.
Essa informação eu tiro do trabalho de campo da tese do meu irmão que foi realizada nas ilhas de Ananindeua, populações tradicionais secularmente estabelecidas na localidade contam essa história.
Bem, em verdade fica como uma contribuição a ser verificada, pois, esse não era o objetivo da tese, mas como somos moradores do 40 horas há 28 anos, ele foi atrás dessa informação por curiosidade.