Cinco décadas sem a EFB

Locomotiva 29: Igarapeassu
Em 1964, há exatamente 49 anos, um trecho entre Belém e Bragança deixou de ouvir o apito e o som do maquinário das Maria Fumaças. Do aviso público até a data de extinção, foram 4 dias. A notícia pegou muita gente de surpresa. 13 cidades e 8 localidades descarrilharam num processo de interligação iniciado a exatos 80 anos.

O maior golpe político que o povo pode sofre é o esquecimento. Essa era a intenção do Ministro de Transporte e Aviação durante o Governo militar que comandou o país no inicio da década de 1960. Para dar continuidade ao seu ato de vingança contra o Estado do Pará, determinou a destruição das principais estações existentes na Estrada de Ferro de Bragança e a transferência de seus trilhos para a seu Estado natal Ceará, para que o povo esquecesse que um dia por ali passou um trem.
Locomotiva na Estação de Castanhal
A quase 5 décadas, encontramos vilarejos estagnados as margens de rodovias com leito natural, e inúmeras depressões que dificulta o acesso das populações que aprenderam a resistir contra o tempo e o esquecimento do poder público, que um dia vislumbrou o seu desenvolvimento por meio da abertura e assentamento de trilhos e vilarejos, que produziriam produtos primários para abastecer a capital paraense.

O mesmo Governo que idealizou a ocupação de um vasto território ao longo de uma ferrovia entre Belém e Bragança, foi o mesmo que assistiu a destruição de uma das mais antigas ferrovias brasileiras, sobre alegação de déficit em relação ao transporte rodoviário, que acabava de despontar como um dos meios mais seguro e rápido de viajar, confirmado com a conclusão da Rodovia Federal Belém-Brasília (BR-010).
 
A população passou assim a utilizar o transporte rápido para percorrer a distância entre Belém e Bragança. As linhas intermunicipais começaram a operar oferecendo mais conforto e rapidez. Sobre essa ótica, substituíram as locomotivas pelos ônibus de viagem.


Linha de ônibus para Castanhal
(http://onibusantigosbrasileiros.blogspot.com.br)
Assim, iniciou um processo de abandono, na qual 30 locomotivas, estações, paradas, telégrafos, caixa d’águas, oficinas, pontes, cidades e vilarejos foram esquecidos. O novo eixo de transporte e desenvolvimento agora se configurava ao longo da BR-316. Quem estava longe desse eixo rodoviário, assistiu o declínio e estagnação de suas economias e desenvolvimento social.
Locomotiva 28: Castanhal no Museu do Trem
As cidades que evoluíram ao longo dessas quase 5 décadas, são as mesmas que estão próximas a BR-316. Enquanto que a mais distante tem seu desenvolvimento lento.

As estruturas ferroviárias que resistiram ao tempo são as estações de Santa Isabel do Pará, Americano, Apeú (Castanhal), Nova Timboteua, Tracuateua, Caixa d’água de Marituba e Bragança, oficinas de Marituba, estrutura de ferro da ponte sobre o rio Apeú, Jambu-Açu e Livramento. As maiores estações foram destruídas como a de Belém (São Braz), Castanhal e Bragança. As paradas com estrutura de madeira foram desativadas, como a de Ananindeua, Marituba, São Francisco, Granja Eremita, Igarapé-Açu, Caripi, Livramento, Matacão e São Luiz.
Caixa d'água de Marituba (Inicio do Século XX)
 Atualmente, as estações de Santa Isabel do Pará e Americano são utilizadas como escola municipal e biblioteca pública. As estações de Benevides, Apeú e Peixe-Boi são utilizados como mercado municipal e lojas. As estações de Nova Timboteua e Tracuateua continuaram a realizar os serviços de telegrafo, utilizado para avisar a existência de passageiros na estação, abrigando assim as agências dos Correios. A estação de Capanema abriga no local um terminal rodoviário assim como Belém. Igarapé-Açu possui desde a década de 1970 um terminal rodoviário no local onde havia uma estação.
Prédio da antiga estação de Americano (Santa Isabel do Pará)
Prédio da estação de Peixe-Boi
Prédio da estação de Nova Timboteua, atual agência do Correios.
Prédio da estação de Tracuateua, atual agência dos Correios.
 
Em Castanhal, foi inaugurado um Museu do Trem para abrigar a locomotiva Castanhal, fazendo alusão a antiga estação existente na Av. Barão do Rio Branco, localizada na praça da Estrela e aberta a visitação pública 24 horas.
Museu do Trem - Praça da Estrela em Castanhal
 
A EFB foi fundamental para a ocupação e desenvolvimento econômico e social da região do Salgado, Guajarina e Bragantina. Sendo está região a que apresenta o maior número de municípios e população. Não tem como negar que a EFB iniciou um processo de ocupação e atividades econômicas no final do século XIX, deixando suas marcas ao longo de várias gerações, que de alguma forma lembram-se da época em que viajar nas locomotivas era como viajar num sonho a 30 km/h.
Locomotiva 28: Castanhal, Museu do Trem
Atualmente, realizar a antiga rota é uma aventura, quase um rally, sem contar que um trecho entre Igarapé-Açu a Nova Timboteua, de Peixe-Boi a Capanema, de Capanema a Tracuateua estão interditados por manutenção das pontes ou abandono, dificultando o acesso por tais caminhos, que guardam em suas paisagens laterais belezas esquecidas a quase 50 anos.
Alunos do Curso de Turismo da Faculdade Integradas Ipiranga
No dia 30 de maio de 2013, junto com os alunos do curso de Turismo da Faculdade Ipiranga, percorremos parte da rota da EFB. Foram 9 horas de viagem entre Belém e Bragança, com paradas para alimentação e visualização das estruturas ferroviárias existentes. Com o apoio do Professor Jorge Alex e da Lecytur Turismo e Viagens, os alunos tiveram uma viagem de conhecimento acerca da EFB e suas cidades, distritos e vilas existentes. Permitindo assim, que os objetivos do Ministro dos Transportes e Aviação de 1964 não se perpetuem.  
Marco histórico da inauguração da EFB em 1908 com o busto do Gov. Augusto Montenegro.
 

Comentários

Anônimo disse…
legal goste muitooo....
Anônimo disse…
Muito Bom! Sua contribuição está ajudando a disseminar a história do Pará. Obrigada!
silvio rosa disse…
Uma historia que nao deve ser esquecida, e princualmente buscar uma maneira para que alguem possa ser responsabilizado pelo crime que cometeram em destruir um patrimonio donosso povo..
silvio rosa disse…
Incrivel como fumos roubados..un crime contra nosso povo...