Início das pesquisas sobre Ananindeua - Revista Ver-o-Pará

Em setembro de 2002, li pela primeira vez a edição especial sobre o município de Ananindeua da Revista Ver-o-Pará. A mesma trazia duas publicações sobre o município, a primeira sobre a área urbana e ilhas e a segunda sobre a colônia Agrícola do Abacatal.

Minha curiosidade e interesse foi tão grande, que ao conversar na época com o Secretário de Meio Ambiente do Município, conseguir um realizar uma visita de reconhecimento sobre o local no mês de novembro. Na ocasião, formei um grupo de pesquisa (Fernanda Rosa, Glaucy Monteiro, Gleydison, Nadir Barbosa, Rogério Nunes e Silvana Menezes), fomos em direção a maior ilha de Ananindeua, com desembarque na semana de cultura da Escola Municipal Domiciano Farias, na comunidade de Igarapé Grande. Como guia o Sr. Manoel Nazareno, indicado pela Secretaria de Cultura e Turismo do Município.
 
Aquela viagem mudou a minha vida e o meu modo de enxergar o local onde morava. Que resultaram em 01 Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo, 01 TCC do Curso de Especialização em Gestão Ambiental, 01 Dissertação de mestrado do curso de Ciências Ambientais, 01 Proposta de Turismo de Base Comunitária para a Secretária de Desenvolvimento Econômico do Município e 02 artigos sobre o uso e composição da flora.
 
Para comemorar os 60 mil acessos neste blog, vou transcrever na integra a edição especial sobre Ananindeua publicada na Revista Ver-o-Pará (2002).

Ananindeua


 
Na Região Metropolitana de Belém, um município esconde surpresas para quem está acostumado a só ver um aglomerado urbano.

A metrópole amazônica, às vésperas do terceiro milênio, ainda preserva hábitos caboclos. Em tempos de "shopping-centers", assim mesmo, em inglês, e hiper-mercados, a pouca distância do burburinho da cidade grande, é possível se encontrar comunidades que mantêm o sustento como seus ancestrais, convivendo com o moderno sem alterar seus costumes. É o caso das comunidades existentes em Ananindeua: os moradores das ilhas de São José (ou Santa Rosa) e João Pilatos, e os descendentes dos escravos na colônia do Abacatal.


Ananindeua é mesmo um lugar de contrastes: experimentando, hoje, um surto de progresso, fruto do trabalho desenvolvido pelo prefeito Manoel Pioneiro, é, na verdade, um município que abriga ao mesmo tempo as maiores concentrações habitacionais da região, um Distrito Industrial a caminho da expansão, instituições de pesquisa de renome internacional e uma zona rural que lembra o mais distante interior do Estado. Além de ser um celeiro de mulheres bonitas, com um número expressivo de vencedoras de concursos de beleza.

 
Tudo isso numa área de 191,4 quilômetros quadrados e num município que é ainda bastante jovem, apesar de estar situado na área de colonização mais antiga do Estado.Tudo começou com a construção da Estrada de Ferro de Bragança e a instalação de uma estação de embarque e desembarque numa região habitada por ribeirinhos que ocuparam a região a partir dos episódios da Cabanagem. Em 1916, a área passou a receber levas de nordestinos, vindos para trabalhar no Curtume Maguari, criado pela firma inglesa Sounders & Davids. A Vila do Maguari, construída para abrigar os operários do Curtume, é considerada o núcleo urbano mais antigo da cidade.
 
 
A transformação do antigo distrito de Santa Izabel em município se deu durante o governo do interventor Magalhães Barata, por Decreto, em 30 de Dezembro de 1943. A instalação foi em 3 de Janeiro de 1944.

  O nome, Ananindeua, originário da língua Tupi, quer dizer "lugar de Anani", Symphonia globulifera árvore da família das gutiferáceas que produz uma resina conhecida como "cerol", muito utilizada na calafetação de embarcações.
 
A árvore que deu o nome ao município já não é encontrada com facilidade e o município criado por Magalhães Barata ficou tão ligado a Belém que se torna difícil determinar os limites dos dois municípios. A pequena população, formada no início por fugitivos dos confrontos da Cabanagem e operários do curtume, está hoje estimada em 550 mil habitantes. O Conjunto Residencial Cidade Nova começou com uma pequena área e hoje já chega a 9 conjuntos com o mesmo nome; o bairro do PAAR ( de Pará, Amapá, Amazonas e Roraima) é a maior área de ocupação da América Latina, com 22 mil residências cadastradas e o que começou com ocupações desordenadas começa a ganhar ares de urbanidade.
 
É em Ananindeua que está situado o Distrito Industrial, para receber as novas indústrias que se instalarem na metrópole e onde o Instituto Nacional de Primatas escolheu uma área para funcionar, em pesquisas de importância para as ciências do mundo inteiro.
 

Ananindeua ainda abriga mansões de famílias ricas que preferiram viver num ambiente mais bucólico, clubes de lazer, um haras com cavalos puro sangue português, isso tudo sem esquecer as comunidades da zona rural. Assim é um município metropolitano que cresce sem esquecer seu passado caboclo, com muito orgulho!
 
 

 Região das Ilhas

 
 
 
Todas as manhãs, um barco deixa o Porto do Surdo, em Curuçambá, e percorre furos e rios, parando pelas beiras, até chegar à Ilha de João Pilatos. É o barco da Prefeitura Municipal de Ananindeua que leva os professores e alunos da Escola Municipal Domiciano Farias, na comunidade do Igarapé-Grande, uma das escolas mais distantes da sede do município.
 
 
Ali Internet ainda é uma palavra sem sentido e os alunos aprendem o valor dos recursos dos quais sobrevivem, os peixes, os frutos, as plantas que crescem nas roças.
 

É a população ribeirinha, que vive na metrópole, mas totalmente afastada do burburinho da cidade grande. O "barco da escola" substitui para alguns as canoas que também transportam alunos pelos furos da região, assim como levam para a cidade o pescado, o camarão, a farinha e o carvão que garantem o sustento das famílias. Nas ilhas, as pequenas comunidades vivem a mesma simplicidade que outras comunidades mais afastadas dos centros urbanos.
 

Se a vida é simples, a paisagem é pra lá de sofisticada. Verde exuberante, os belos caminhos formados pelos rios, furos e igarapés, e o sossego, um bem que não se encontra mais nas cidades, E que existe tão perto da gente.

 
Este mundo quase paradisíaco já atrai moradores de Ananindeua, que montam casas de veraneio nas ilhas e lamentam cada vez que devem retomar à vida agitada. É o caso da cartorária Fátima Falcão, titular do mais antigo cartório da cidade, que comprou a ilha Sassuá e ali instalou uma casa que alia o conforto moderno ao modo de vida simples da gente ribeirinha. "Cada vez que venho aqui, a pior parte é ter que voltar. Dá vontade de não sair nunca mais", diz Fátima.
 

O ribeirinho vive em função das marés, o verdadeiro relógio das comunidades. São as marés que determinam o momento de colocar os matapis- armadilhas para apanhar camarões- e recoIhê-Ios carregados, e determinam ainda o momento de levar para a cidade os produtos da pesca, da extração dos produtos da floresta, da mandioca e da farihha preparada em mutirão.

Um dos produtos da mata que movimentam a economia ribeirinha é o açaí, que quase desapareceu com a pressão da indústria do palmito: "Essas beiras todas aí antes eram um açaizal só, hoje a gente olha e com dificuldade consegue ver uma palmeira aqui a ali", diz Jonas Guedes da Silva, nascido, criado e vivido na região do Maguari. A indústria do palmito já saiu da região e hoje a preciosa palmeira já volta a aparecer na mata.
 
Tão importante é o açaí que todos os anos as comunidades realizamos Festival de Açaí das Ilhas de Ananindeua, promovido pelas comunidades de Igarapé Grande e João Pilatos. Além do alívio com o fim da extração do palmito, os próprios ribeirinhos já se convenceram da necessidade de plantar a palmeira, para garantir a colheita dos frutos, até porque o mercado se expande, com a moda que se instalou no Sul do País de consumir suco de açaí nas academias de  ginástica.

A mata também fornece outros frutos preciosos, como o cupuaçu e o bacuri. Os ribeirinhos ainda produzem carvão, uma atividade predatória mas que é renda garantida para as famílias.


O ritmo de vida é lento, até por força da dependência das marés e a luta pela sobrevivência é dura, muito dura, nada se consegue sem sacrifício. Mas à noite, como poucos, o ribeirinho encosta a cabeça na rede e dorme ao marulho das águas, perturbado no máximo pelo movimento de alguma embarcação que passa lentamente com o seu "po-po-pó" característico, que também embala o sono.


Fonte: Revista Ver-o-Pará. Ano V. 2002.

 
 






 

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