Ananindeua - Suas lendas e seus causos

Os textos a seguir por se tratarem de documentos históricos foram colocados na integra, com exceção da “Cachoeira do Rio Maguari-Açu ”, sem correções gramaticais.

A lenda da pedra encantada

Na Vila do Maguary no lugar conhecido como “cachoeirinha” ou “cachoeira do encanto”, contam os antigos moradores que nesse local, existe no fundo do rio uma pedra de formato oval, tamanho avantajado, tendo aspecto de uma laje, com as pegadas e o desenho da Ave Maguary, entalhados na pedra, acompanhado de inscrições feitas em linguagem até hoje desconhecida.

Os nativos do lugar, consideram a pedra e dizem que é obra do “povo do mar”. Quando é maré baixa, se pode divisar a “Pedra encantada”, no fundo do rio. O nome Cachoeirinha se deve a existência de uma muralha de pedras maciças que existiam nas pedras, lembravam a queda d´água de uma cachoeira.
O local é considerado “Mágico e encantado”, pois quem tenta destruir a pedra fica louco ou morre de “causa inexplicável”

Lenda do igarapé do Bom Jardim

Conta-se que no Bom Jardim, na vila do Maguary, existe um “Igarapé Encantado”, e que a meia noite, aparece uma sereia de cabelos pretos e longos, que costuma descansar em cima de uma pedra e canta uma linda melodia. É crendice popular de que à meia-noite as pessoas não podem aproximar-se dos igarapés. “O igarapé é respeitado e ninguém pode bolir com ele” diz tia Cecília.

Em determinada época do ano, aparecem nos igarapés, inúmeros olhos d`água, que fazem movimento circulares, como se estivessem borbulhando, cuspindo a areia do fundo do rio, e aquele que se aproxima dele é flexado pelos “Encantos dos Igarapés.”

Contos do Maguary – Quinta Carmita
A procissão

Conta-se que a meia-noite, se vê uma procissão dirigir-se à “Quinta Carmita”, tendo à frente um padre Franciscano entoando uma cruz. Os romeiros carregam velas acessas, entoam cânticos religiosos e deixam para trás um barulho de corrente arrastando pelo chão. O ritual da procissão inicia-se primeiro na “Fonte Encantada”, onde os passantes param para beber água, e depois caminham em rumo ao cruzeiro ali erguido, para rezarem. A Fonte D`água tinha um formato de uma pequena gruta, onde ouvia-se o barulho das águas do rio ao escoarem por ela. A gruta tem uma guardiã conhecida como a “Mãe do rio Maguary”

O Velho Cruzeiro

No local onde está erguido “O Cruzeiro”, existe um tesouro enterrado, que ninguém até hoje encontrou.

Conta-se que um senhor de nome “Eugênio”, residente no Amazonas, teve um sonho revelador. Apareceu em sonho para ele, um homem alto, branco, que usava chapéu, vestia-se todo de branco estava em pé de junto a um rio. “O senhor de branco”, disse-lhe em sonho:

-Conheço um lugar no norte onde existe um tesouro enterrado, e te tornarás muito rico! O lugar tem nome de pássaro, em seguida mostro-lhe a propriedade da “Quinta Carmita”, uma árvore de croto; a fonte d`água, o casarão; o cruzeiro... Apontando para o Cruzeiro, disse:

-Aqui está enterrado o tesouro! (este é o sinal). Seu Eugênio não deu importância ao sonho, no entanto, estando desempregado, veio para o norte tentar a sorte.

No percurso da viagem, conheceu o seu Marcelino, fazendo amizade com ele, descobriu que este morava no Maguary (nome de um pássaro), ficou intrigado. Seu Marcelino ofereceu-lhe trabalho.

Chegando a propriedade, o seu Eugênio espantou-se com a semelhança do local (era o mesmo que havia sonhado).

Certa noite tomou-se de um impulso e aproximou-se do local descrito, como sinal dado “pelo homem de branco” temeroso em ser descoberto, e por não ser filho do Maguary, não desenterrou o tesouro, entretanto passou à ter pesadelos com o “homem de branco”. Enlouqueceu! Desde então desapareceu misteriosamente. O local é considerado assombrado, pois, à noite “o homem de branco” espera por alguém que possa desenterrar o tesouro.


Cachoeira do Rio Maguari-Açu

Quinta Carmita as margens do Maguari (luciaraujo@blogspot.com)


(...) Estávamos nas férias de São João e resolvemos passa-las em nossa aprazível vivenda.

A ocasião se nós ofereceram de irmos por água e de bom-grado, preferimos essa viagem à de trem, ,mais monótona, mais nossa conhecida e menos pitoresca.

Eram cinco horas da manhã, quando a nossa lanchinha largou do trapiche da pesca, hoje demolido para ceder aos ingleses das obras do porto o seu farrapo de terreno.(...)

Às seis e meia, entravamos no furo do Maguary, entre o pinheiro e a ilha de Caratateua. (...)

Num dado ponto, o rio se contorce em curva caprichosa chamada “o Cotovelo”. Logo adiante, rasga-se no mangal, a boca do Mauary-Açu. (...) As primeiras casas apareceram, do lado esquerdo do rio. Era o povoado da “Boca”. Os caboclos se apinhavam à beira do rio sobre o barranco de tabatinga.(...)

Daí até o nosso sítio não há mais povoações. Acima, próximo à cachoeira, existe uma pequena aglomeração de casas denominadas a “Cabeceira”. Estugamos a marcha e dentro de um quarto de hora, avistamos a ponte de nossa “Quinta Carmita”.(...)

Às oito horas da noite, depois de um jantar delicioso, à altura de nosso apetite espicaçado pela movimentação daquele dia, acendemos as fogueiras e iniciamos a queima de fogos.

Às onze horas as labaredas desfaleciam e o silêncio , reclamado pelas velhas, titubeantes de sono, sucedia ao estouro, na ronqueira, do ultimo dedal de pólvora.

Era preciso arranjar uma diversão para esperar o banho da meia-noite
-Vamos dar um passeio no rio, lembraram.

Preparamos os remos e as foquetas, metemo-nos bote levando conosco o “Mestre Zé Antônio”, companheiro inseparável em todos os dias. Ao transpormos o primeiro estirão alguém propôs que subíssemos até a cachoeira para tomarmos o banho de São João.

A lembrança parece não ter agradado ao preto velho. (...)

-Não vão a essa maldita cachoeira, meninos; olhem a cobra grande que mora lá!

-A dois palmos do nariz é o que vocês pensam. Aquilo tudo é encantado. A cachoeira, em outros tempos, foi um palácio, onde morava uma princesa muito linda e muito rica.

-A cobra grande é a princesa, sem dúvida?

-Isso! E a meia-noite em ponto ela sai para fazer seu passeio e se põe a nadar por cima d´água. O compadre João Damasceno já viu uma vez, de longe, e diz que é um monstro de feia.(...)

-Disso mesmo eu não entendo; o que eu sei o sujeito tiver medo dele ela engole, se for valente o beija-o na boca e então se desencanta e casa com ele.(...)

O velho se lançara da montaria e em duas braçadas a margem do rio, subia, com lesta capivara e íngreme ribanceira e desaparecia entre os nodosos troncos das cirubeiras marginais.(...)

Continuemos a viagem e minutos já ouvimos o marulhar barulhento da corredeira, (...) Amarramos os botes e saltamos às pedras negras, e a maré ainda não cobria , mas dentro em pouco mergulharia na undiflava mansão da mãe d`água e da boiúna.(...)

-E a cobra? Será que a princesa não nos quer? Já lá se foi a meia-noite.
- Muito idiota este Zé Antônio, que poderia viver aqui num suntuoso palácio!

Pilheriamos um pouco e retomamos o rumo da “Quinta” louvando a São João e rogando a São Pedro uma noitada semelhante.

Fonte:

ALMEIDA, A. F. Ananindeua e a sua identidade cultural. (Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo)Centro Sócio-Econômico:UFPA, 2006.

CASTRO, Ana Tereza Leão. Redescobrindo Ananindeua-1997.

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