Conjunto Cidade Nova ou Cidade?

Foto aérea do Conjunto Habitacional Cidade Nova (Panoramio)
 Até as primeiras décadas do século XX, Belém expandia-se evitando as áreas alagadiças, tanto pelo contingente demográfico (quase estacionário após o declínio da borracha) quanto pelas possibilidades oferecidas pelo planejamento urbanístico de Antonio Lemos.

A partir de 1940, com o advento da Segunda Guerra Mundial, a Amazônia torna-se objeto de uma nova intervenção estatal através dos acordos de Washington/1942, em que lhe cabia o papel de fornecedora de látex para os aliados, provocando novas alterações em sua estrutura com um novo surto de desenvolvimento urbano.

Nesta época ocorre a instalação do Banco de Crédito da Borracha em Belém, assim como instituições federais como SPVEA, SUDAM e Embrapa e a instalação no entorno da 1° légua patrimonial de Belém o chamado “cinturão institucional” voltados para instituições públicas.

Planta de Belém ano 1889 (UFAUFPA, 2011)

A população passa a estabelecer-se mais adiante do “cinturão institucional” em bairros novos que acompanham a via da Estrada de Ferro de Bragança (atual BR-316) adentrando Ananindeua, surgindo às áreas de invasões e a implantação de projetos habitacionais.

O Conjunto Cidade Nova resulta desses projetos e sua implantação é uma estratégia do capital imobiliário no Pará, que desde a década de 1970, demarcaram a periferia da Região Metropolitana de Belém (RMB), absorvendo em sua maioria a população de baixa renda, embora houvesse projetos para classe média e alta, dentro ou fora dessa política habitacional, como o Condomínio Lago Azul, Condomínio Levylândia e Green Garden (existentes desde a década de 1960).

A política de habitação popular do Banco Nacional de Habitação (BNH), através do Plano Nacional de Habitação Popular (PLANHAP), e na ação da Companhia de Habitação do Pará (COHAB-Pará - Empresa de economia mista, criada pela lei estadual 3.282 de 13 de abril de 1965) quanto ao planejamento urbanístico definiram o tipo de moradia.

Dentro da Sociologia Urbana, o termo Cidade Nova foi empregado considerando sua dimensão quantitativa através da relação entre o contingente habitacional do conjunto e a concepção da cidade, que podem ser:
- Unidade de Vizinhança (máximo de 1.500 hab. e 200 a 300 habitações);
- Cidade Comunitária (800 a 2.000 habitações);
- Cidade Nova ou Funcional (a partir de 3.000 habitantes), sendo o modelo mais utilizado em todo mundo.

O espaço do atual Conjunto Cidade Nova abrangia uma área conhecida como “matas do 40 Horas” e as terras do Curtume Maguary localizado na área do povoado do Coqueiro, em que sua ocupação remonta o século XIX efetuada principalmente por nordestinos que ali se instalaram dando inicio a grande derrubada da mata virgem, visando ao fornecimento de postes para a instalação de rede de iluminação de Belém ou de lenha para a ferrovia e industrias da capital.

Até as décadas de 1940 e 1950, já haviam moradias rurais dedicadas às atividades de subsistência, que somente na década de 1960, começaram a ganhar definições com a organização do espaço através da instalação de clubes recreativos, retiros, sítios rodeados de muitas frutíferas e granjas de uso rural-produtivo, existindo várias granjas exploradas por famílias descendentes de japoneses e nordestinos.

Com a aquisição dos primeiros terrenos pela COHAB-PA para a implantação do conjunto, a zona de capoeira na década de 1970 é transformada definitivamente de espaço rural–produtivo em urbano-habitacional.

Cada propriedade ou gleba adquirida transformava-se em Cidade Nova I (adquirido em 1974 e entregue em 1977), Cidade Nova II (1974–1978), III (1974–1979), IV (1974-1980), V (1974-1981), VI (1974-1981), VII (1974-1981), VIII (1978 a 1983 e entregue em 1986), IX (1978-1986), transformando-se em um complexo habitacional, servindo de modelo para a implantação de outros na região como Guajará I e o Conjunto PAAR.

As casas eram financiadas a longo prazo pela COHAB. As ruas receberam com base nos pontos cardeais as siglas WE (West, Este) nomeia as travessas e SN (Sul, Norte) nomeia as Arteriais (Avenidas).

Durante os anos de implantação seus moradores proveram em sua maioria de Belém, por isso são considerados como banidos desta cidade, por se deslocarem até o local, antes dispersos em Belém e agora juntos na condição de habitar.

O Conjunto Cidade Nova foi considerada por Rodrigues (1998) como um embrião disposto a cumprir um importante papel na caminhada da sociedade civil para reverter o quadro inicial de segregação e exclusão.

Atualmente, o Conjunto é uma verdadeira cidade, as SN são locais idéias para implantação de pontos comerciais, não é a toa que as maiores redes de supermercados e lojas de departamentos estão situadas nas mesmas, assim como clinicas particulares, hospitais, colégios, universidades, centros de treinamento técnico, lojas de materiais de construção, bancos, redes de farmácias, etc.

O que no inicio apresentava-se uma expansão da periferia da RMB, demarcada por seus limites habitacionais, hoje é responsável pela fixação de seu morador no seu bairro principalmente para trabalhar e estudar.

Já decorreram mais de 36 anos desde a primeira compra da Gleba 1 em fevereiro de 1974, muita coisa mudou, transformando esse conjunto em uma verdadeira Cidade.

FONTE:

ALMEIDA, Adrielson Furtado. Ananindeua e a sua identidade cultural. (Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo) Centro Sócio-Econômico:UFPA, 2006.

RODRIGUES, Eliane Jaques. Banidos da cidade unidos na condição. Cidade Nova: Espelho da segregação social em Belém. Belém: UFPA/NAEA, 1998.

Comentários

Unknown disse…
Valeu cara você me ajudou bastante