Locomotiva 29: Igarapeassu
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O maior golpe político que o povo pode sofre
é o esquecimento. Essa era a intenção do Ministro de Transporte e Aviação
durante o Governo militar que comandou o país no inicio da década de 1960. Para
dar continuidade ao seu ato de vingança contra o Estado do Pará, determinou a
destruição das principais estações existentes na Estrada de Ferro de Bragança e
a transferência de seus trilhos para a seu Estado natal Ceará, para que o povo
esquecesse que um dia por ali passou um trem.
A quase 5 décadas, encontramos vilarejos
estagnados as margens de rodovias com leito natural, e inúmeras depressões que
dificulta o acesso das populações que aprenderam a resistir contra o tempo e o
esquecimento do poder público, que um dia vislumbrou o seu desenvolvimento por
meio da abertura e assentamento de trilhos e vilarejos, que produziriam
produtos primários para abastecer a capital paraense.
Locomotiva na Estação de Castanhal |
O mesmo Governo que idealizou a ocupação de
um vasto território ao longo de uma ferrovia entre Belém e Bragança, foi o
mesmo que assistiu a destruição de uma das mais antigas ferrovias brasileiras,
sobre alegação de déficit em relação ao transporte rodoviário, que acabava de despontar
como um dos meios mais seguro e rápido de viajar, confirmado com a conclusão da
Rodovia Federal Belém-Brasília (BR-010).
A população passou assim a utilizar o
transporte rápido para percorrer a distância entre Belém e Bragança. As linhas
intermunicipais começaram a operar oferecendo mais conforto e rapidez. Sobre
essa ótica, substituíram as locomotivas pelos ônibus de viagem.
Assim, iniciou um processo de abandono, na
qual 30 locomotivas, estações, paradas, telégrafos, caixa d’águas, oficinas,
pontes, cidades e vilarejos foram esquecidos. O novo eixo de transporte e
desenvolvimento agora se configurava ao longo da BR-316. Quem estava longe
desse eixo rodoviário, assistiu o declínio e estagnação de suas economias e
desenvolvimento social.
Linha de ônibus para Castanhal (http://onibusantigosbrasileiros.blogspot.com.br) |
Locomotiva 28: Castanhal no Museu do Trem
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As estruturas ferroviárias que resistiram ao
tempo são as estações de Santa Isabel do Pará, Americano, Apeú (Castanhal),
Nova Timboteua, Tracuateua, Caixa d’água de Marituba e Bragança, oficinas de
Marituba, estrutura de ferro da ponte sobre o rio Apeú, Jambu-Açu e Livramento.
As maiores estações foram destruídas como a de Belém (São Braz), Castanhal e Bragança.
As paradas com estrutura de madeira foram desativadas, como a de Ananindeua, Marituba,
São Francisco, Granja Eremita, Igarapé-Açu, Caripi, Livramento, Matacão e São Luiz.
Atualmente, as estações de Santa Isabel do
Pará e Americano são utilizadas como escola municipal e biblioteca pública. As
estações de Benevides, Apeú e Peixe-Boi são utilizados como mercado municipal e
lojas. As estações de Nova Timboteua e Tracuateua continuaram a realizar os
serviços de telegrafo, utilizado para avisar a existência de passageiros na
estação, abrigando assim as agências dos Correios. A estação de Capanema abriga
no local um terminal rodoviário assim como Belém. Igarapé-Açu possui desde a
década de 1970 um terminal rodoviário no local onde havia uma estação.
Caixa d'água de Marituba (Inicio do Século XX)
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Prédio da antiga estação de Americano (Santa Isabel do Pará)
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Prédio da estação de Peixe-Boi
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Prédio da estação de Nova Timboteua, atual agência do Correios.
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Prédio da estação de Tracuateua, atual agência dos Correios.
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Em Castanhal, foi inaugurado um Museu do Trem para abrigar a locomotiva Castanhal, fazendo alusão a antiga estação existente na Av. Barão do Rio Branco, localizada na praça da Estrela e aberta a visitação pública 24 horas.
Museu do Trem - Praça da Estrela em Castanhal
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A EFB foi fundamental para a ocupação e
desenvolvimento econômico e social da região do Salgado, Guajarina e
Bragantina. Sendo está região a que apresenta o maior número de municípios e população.
Não tem como negar que a EFB iniciou um processo de ocupação e atividades econômicas
no final do século XIX, deixando suas marcas ao longo de várias gerações, que
de alguma forma lembram-se da época em que viajar nas locomotivas era como
viajar num sonho a 30 km/h.
Atualmente, realizar a antiga rota é uma
aventura, quase um rally, sem
contar que um trecho entre Igarapé-Açu a Nova Timboteua, de Peixe-Boi a
Capanema, de Capanema a Tracuateua estão interditados por manutenção das pontes
ou abandono, dificultando o acesso por tais caminhos, que guardam em suas paisagens
laterais belezas esquecidas a quase 50 anos.
Locomotiva 28: Castanhal, Museu do Trem
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Alunos do Curso de Turismo da Faculdade Integradas Ipiranga
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Marco histórico da inauguração da EFB em 1908 com o busto do Gov. Augusto Montenegro.
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